Glimpse 27

São Martinho do Porto





Apontamentos fugazes 242

Gilgamesh

Como posso eu ficar silencioso, como posso descansar, quando Enkidu, que eu amei, se tornou pó, e também eu morrerei e me deitarei na terra?

Gilgamesh, tr. do inglês de Pedro Tamen, (Lisboa, Vega, 1999), p. 56

Homenagens 75

O belo musical 


Max Richter, Nonviolent Offender

Homenagens 74

António Lobo Antunes e os olhos lacrimejantes 

Leio uma entrevista, em jeito de digressão, a António Lobo Antunes. As palavras dele mexem-me sempre nas células, desarranjam-nas. Incomodam-me como o andar à chuva do Alberto Caeiro. E, às vezes, como poucos o conseguem, desarma-me. As palavras dele. Expõem, com crueza, o que anda tão escondido, que ainda não se sabe e já existe. Desta vez, expôs o medo da vida que se esgota antes que o corpo se torne exangue. O medo que já não haja livros para escrever ainda antes de morrer. É um medo imenso. É uma tragédia. E molha-me os olhos com uma tristeza incomensurável. Mas enquanto ele ainda se lembra de dizer
Tenho medo é que isto [a necessidade de escrever livros] acabe antes de eu acabar.
o medo não tem ainda espaço para se materializar. E só interessam as minhas lágrimas felizes de compreensão.

Apontamentos fugazes 241

Moral

Estou farta que me digam que tenho razão. Quero que ajam de acordo com essa razão. Mas não posso esperar esse dia. Não quero criar expectativas irrealistas.

Apontamentos fugazes 240

Comunicação

E não é que Nietzsche já tinha pensado a pirâmide da compatibilidade, expressa em termos de comunicação?

Pressupondo que, desde sempre, a necessidade apenas aproximou aqueles homens que, servindo-se de sinais semelhantes, podiam indicar necessidades semelhantes e experiências semelhantes, resulta daí, em geral, que a fácil comunicabilidade da necessidade (…) deve ter sido a coisa mais poderosa entre todas as que, até ao presente, dominaram o homem. Os homens mais parecidos e mais vulgares estiveram e estão sempre em vantagem; os mais selectos, mais delicados, mais raros, mais difíceis de compreender permanecem facilmente sós, sucumbem, com o seu isolamento, aos acidentes e reproduzem-se pouco. Devemos invocar forças contrárias monstruosas para entravar este processo natural, demasiado natural (…) o avanço do homem no sentido do semelhante, do comum, do mediano, do gregário — do vulgar!

Friedrich Nietzsche, Para além do Bem e do Mal
tr. e notas Carlos Morujão, (Lisboa, Relógio d’Água, 1999), § 268

Apontamentos fugazes 239

Broken pieces

We’re all a bit broken. The question is whether we want broken pieces of others mending our dented and hollow spirits.

Apontamentos fugazes 238

A arte descobre ou cria?

"Apenas um artista é capaz de adivinhar o sentido da vida", diz Novalis. Eu talvez prefira dizer que, no processo de procura desse sentido, o artista o cria.

Novalis, Fragmentos de Novalis, selecção, tradução e desenhos de Rui Chafes, 
Assírio e Alvim, 2000.

Recomendações 88

Tamino

Já, por várias vezes, referi como adoro a sensação de descobrir um músico novo e de sentir aquele arrebatamento, que precisa de uma repetição que só questiona o seu término. Mas não é fácil encontrar este querer com traços de obsessão e não sentir medo. Medo de o exaurir, medo de descobrir que não é assim tão bom, medo de o perigar com a expectativa. Porém, esse medo é um privilégio. Só o que é especial pode provocar esse medo.
Descobri, incidentalmente, Tamino. Tamino é um jovem – muito jovem – que faz uma música muito antiga. Uma música de um ancião de elevada técnica e sabedoria. Uma música que parece ecoar a partir dos primórdios do tempo. Uma música que faz ressoar verdades imemoriais, naturalmente impossíveis de aceder se Tamino não existisse. 
Tamino vive na Bélgica, filho de mãe belga e pai egípcio, e processa na sua música uma síntese que assusta. Podia dizer-vos que nele ouço reverberar a intensidade do Jeff Buckley, a escuridão do Nick Cave, a elegância de Serge Gainsburg e a paixão árabe. Seria verdade. Mas escolho dizer-vos por que é que a síntese que ele consegue assusta. Assusta porque é improvável tanta maturidade musical em alguém tão jovem. E porque a síntese de componentes aparentemente díspares arrisca a ser um aglomerado disparatado. Mas o que Tamino nos traz, no EPs Tamino e Habibi, é uma síntese coerente. Pode haver ecos do passado, mas é na criação do que é seu que Tamino sobressai.
A criação de Tamino faz sentido. E num mundo que não o tem, a arte é todo o sentido que sabemos criar. Quando sabemos. Ele sabe.
Talvez este seja um post demasiado arrebatado. Mas é justo.


Cigar, Tamino

Apontamentos fugazes 237

Vulnerabilidades
— E tu? — perguntou o anjo, e voltei a reconhecer a sua voz severa e muito distante, — nunca quiseste morrer? Porque é que pensas nisso? 
— Penso apenas que nos resta sempre essa saída! 
— Dás assim tão pouco valor à morte? Serve apenas para fugires de ti própria? 
— Não para fugir de mim, para escapar à vida. A vida dói-me. Até um estranho me pode fazer mal. Um obstáculo tão pequeno pode precipitar-me na queda. 
Annemarie Schwarzenbach, Morte na Pérsia, Tinta da China, 2008, p. 130

Apontamentos fugazes 236

E novamente Rui Chafes

que me parece, por vezes, ter já feito todas as reflexões importantes.

19. O artista exprime o instinto espiritual da humanidade, traduz a tensão do homem em direcção ao eterno ou a uma qualquer forma de transcendência. A arte transporta em si uma nostalgia do ideal e exprime sempre a sua procura. (…) O artista, no seu movimento para o Ideal, perturba a estabilidade de uma sociedade. A sociedade aspira à estabilidade, o artista aspira ao infinito. É essa a responsabilidade do artista e o sacrifício espiritual que lhe é exigido: com a sua consciência especial e a sua rigorosa demanda da momentânea verdade absoluta, ele vê as coisas antes dos outros e oferece-as ao Mundo mesmo se, por vezes, possam parecer apenas feridas abertas e vulneráveis. A arte coloca questões e dúvidas, instaura perturbações. Ela é a consciência da memória e da estrutura emocional de um espaço. 

Rui Chafes, Entre o céu e a terra — O perfume das buganvílias, Documenta, 2014.

Apontamentos fugazes 235

Inconsistências

A vida coloca-se à frente da Vida.

Apontamentos fugazes 234

Reprodução

Nem todas as coisas aspiram a isso, mas tens razão Aristóteles, essa é a maneira mais comum de aspirar ao eterno e ao divino. Só que nós, nós temos a arte.
É que essa é a função mais natural, para os seres vivos perfeitos — os não mutilados, nem de geração espontânea —, produzir um outro da mesma qualidade da sua: o animal, um animal; a planta, uma planta. Isto para que possam participar do eterno e do divino do modo que for possível; todas as coisas aspiram a isso, e tudo quanto fazem de acordo com a natureza, fazem tendo em vista isso.  
Aristóteles, Sobre a Alma, tr. Ana Maria Lóio, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2010, 415a, 25 a 415b

Apontamentos fugazes 233

Vislumbres de realidade

Wangel (observando-a): Ora pensa lá um bocado, querida. Ou… se calhar já não consegues lembrar-te de como ele era, quando esteve contigo no Bratthamer?
Ellida (reflectindo, fecha os olhos um instante): Não, muito nitidamente não consigo. Hoje não consigo. Não é estranho?
Wangel: Não, não é assim tão estranho. Apareceu-te à frente uma nova imagem, feita a partir da realidade. E esta imagem eclipsa a imagem antiga que tinhas, e por isso deixas de a poder ver.
Ellida: Achas, Wangel?
Wangel: Acho, e acho que também afasta as tuas fantasias doentias. Por isso, é bom que a realidade tenha aparecido.
Ellida: Bom! Dizes que é bom?
Wangel: Sim. Teres visto a realidade… pode bem ser a tua cura. 

Henrik Ibsen, A dama do mar em Peças Escolhidas - vol 2, Cotovia, 2008, 4º Acto, p. 194.

Poemas 55

Impossibilidade


Quando o mundo para e tu existes
Há espaço junto do teu braço para a minha cabeça
Mesmo que só dentro de mim, em bocados de sonhos.
Mas é quando carrego a inevitabilidade da morte
de todos os cenários que aplaudem a felicidade
que te encontro pintado em todas as paredes fechadas.
A imagem perfeita que não pode existir
Porque o mundo corre e subjuga e mutila
E mata. E a esperança nunca pode ser possível.
E, no entanto, é nos dias mudos de cor e de cheiro
Que travo batalhas de discórdia com o pensamento
Para te permitir inteiro e mais do que real.
Para te aceitar ubíquo, nas células que esmagas,
Para te criar imortal, de asas nos pés,
Para te elevar aos deuses, acima de todos,
para te explodir em estrelas, num novo ideal.

[Julho de 2017]

Apontamentos fugazes 232

E ainda arte. E ainda Rui Chafes.

Quando se prova um chá bom, não se quer voltar a beber qualquer outro. O mesmo acontece com a arte, com a poesia, com a filosofia. É difícil aguentar coisas fraquinhas. 
 
Não se pode levantar o véu de uma obra de arte, deixá-la despida. Como as pessoas não sabem ver, estão sempre à espera de referentes e palavras, para tentarem lá ver o que lhe disserem que «é». 

(…) não há arte sem pensamento, porque sem este é apenas artesanato. (…) a arte, se o é, tem de questionar, inquietar, e perturbar o mundo. Como disse, a arte é para se «ficar mal». 

Rui Chafes, Sob a Pele - conversas com Sara Antónia Matos, Documenta - Cadernos do Atelier-Museu Júlio Pomar, 2015, pp. 71, 144 e 152

Apontamentos fugazes 231

Radical fanatismo de perfeição
Defendo que o artista tem de saber criar um espaço de pureza intransigente para o seu trabalho. A arte, quando é maior do que a vida, assusta. Nesse sentido, os grandes artistas são uns monstros, com o seu radical fanatismo de perfeição (dos sentimentos, das ideias, da execução) completamente separado da «razoabilidade da vida», acima de qualquer hipótese de negociação. As pessoas costumam chamar-lhes loucos, eu não chamo…

Rui Chafes, Sob a Pele - conversas com Sara Antónia Matos, Documenta - Cadernos do Atelier-Museu Júlio Pomar, 2015, p. 62

Poemas 54

Eye-diving

I want to dive into your eyes
to reach for your soul
and suck you out from within.
You, your faraway ideal,
brightening up my night
dimming my blinding day,
until you carry me
over the edge.

[Outubro de 2017]

Momentos de poesia 24

A Nona Elegia

(…)
Mas porque aqui estar muito é, e porque aparentemente de nós 
precisa tudo o que aqui está, este desvanecente que 
estranhamente nos diz respeito. A nós, os mais desvanecentes.
Uma vez cada, só uma vez. Uma vez e nunca mais. E nós também 
uma vez. Nunca de novo. Mas ter sido 
este uma vez, ainda que só uma vez
terrenamente ter sido parece não revogável.
(…)
(…) Ai, para a outra relação, 
dor, o que se leva? Não o contemplar, o aqui 
lentamente aprendido, e nenhum aqui acontecido. Nenhum.
Portanto, as dores. Portanto, sobretudo o ser pesado, 
portanto, do amor longa experiência, — portanto, 
Somente o indizível. (…)
(…)
Vê, vivo. De quê? Nem a infância nem o futuro 
se tornam menos….. Existência para lá do contável 
brota-me no coração.

Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno, tr. José Miranda Justo, Relógio d’Água, 2016

Recomendações 87

Sapiens - A brief history of humankind


É raro encontrar um livro que combine a clareza do discurso, a audácia das teses e a destreza das palavras. Mas é ainda mais raro encontrar alguém que não se deixe enredar nos pequenos fait-divers e na micro-análise. Por isso é particularmente bem-vindo um autor como Yuval Noah Harari, um historiador que escreve como um escritor, escava como um arqueólogo, analisa como um biólogo, não se coíbe das ingressões matemáticas como um economista e questiona como um filósofo. 

Pode ser importante compreender os desenvolvimentos geo-políticos no Médio Oriente na última década, mas é quando olhamos à escala de milhões de anos que conseguimos ver outros padrões. É pelo menos quando olhamos à escala de vários milénios que conseguimos ver padrões interessantes sobre o homo sapiens. E é isso que Harari nos traz, em Sapiens, com uma habilidade conectiva difícil de igualar. Nas, cerca de, 500 páginas que compõem o livro, Harari conta-nos uma história, a história do mundo, onde faz desenrolar a História em si. 

Mas talvez mais importante do que o que nos traz é onde Harari nos leva. E leva-nos, sem indecisão, às perguntas mais críticas da actualidade. Podia deixar-vos inúmeros excertos certeiros que vos fariam pensar “claro, por que é que eu nunca fiz esta conexão antes?” ou “exactamente, como é que as pessoas não percebem que quase tudo são realidades imaginadas?”, mas escolho deixar-vos com as perguntas do devir, porque é demasiado tarde para não sentirmos o estrépito do arauto da incerteza que nos chama do futuro.
«What we should take seriously is the idea that the next stage of history will include not only technological and organisational transformation, but also fundamental transformations in human consciousness and identity. And these could be transformations so fundamental that they will call the very term ‘human’ into question. (…)

If the curtain is indeed about to drop on the Sapiens history, we members of one of its final generations should devote some time to answering one last question: what do we want to become? This question, sometimes known as the Human Enhancement question, dwarfs the debates that currently preoccupy politicians, philosophers, scholars and ordinary people. (…)
And yet the great debates of history are important because at least the first generation of these gods would be shaped by the cultural ideas of their human designers.»  
«The only thing we can try to do is influence the direction scientists are taking. But since we might soon be able to engineer our desires too, the real question facing us is not ‘What do we want to become?’, but ‘What do we want to want?’ Those who are not spooked by this question probably haven't given it enough thought.» 

Yuval Noah Harari, Sapiens, A brief history of humankind, tr. autor, coadjuvado por John Purcell e Haim Watzman, Vintage Books, 2014 (p. 463 e p. 464)

Apontamentos fugazes 230

A permanência

A peste, é preciso dizê-lo, tirara a todos o poder do amor e até o da amizade. Porque o amor exige um pouco de futuro e, para nós, já não havia senão instantes. 

Albert Camus, A Peste, 1ª ed., Livros do Brasil, 2016, p. 156

Poemas 53

Caminhos

De uma estrada sem início 
apareces sem chegares
és um vício,
um olhar perdido,
uma memória presente.
Sempre.
Uma folha caída
um riso inesperado
um raio certeiro
de fome incapaz.
Atrás
sem poderes encontrar 
uma porta que escancare
o arrependimento inconstante
de ver e voltar
para outro lugar
longe,
tão longe,
inacessível e calmo.
Um outro lugar
tão longe daqui.

[janeiro de 2017]

Recomendações 86

Post Pop Depression e um concerto de Iggy Pop

O último álbum de Iggy Pop, Post Pop Depression, de 2016, é uma obra incrível, que muito rapidamente passei a recomendar. O que eu nunca pensei foi passar o concerto de Iggy, no Super Bock Super Rock, em perfeito êxtase, mesmo quando só cantou um tema deste álbum. Digo-vos, com toda a sinceridade, que foi dos concertos que mais me impressionou até agora em 2016. Não percam a oportunidade, se puderem ver um concerto de Iggy Pop ao vivo. Ele fará tudo para tornar o concerto memorável.



Gardenia, Post Pop Depression, Iggy Pop, 2016

Pensamentos líquidos 123

III. The Olympics: Rio 2016, the gold

Let me wrap up with a last post on the Olympics. And this post is a homage to a few athletes. So many more would deserve the highlight, but let me choose a few, from my biased viewpoint.
Michael Phelps. He is an outstanding swimmer and his comeback was out of this world. He was not as dominant as he once was, but he proved himself so brilliantly. 28 Olympic medals mean something terrific. For someone like me, who loves swimming, it is a pleasure to be able to witness his career.
Katinka Hosszu. She transformed herself into a magnificent swimmer. Yes, Katie Ledecky smashed world records and she is an amazing crawler. But Katinka swims medleys, which means she is more versatile. I do not want to discuss the effect of her partner and coach on her achievements, but since they started this type of arrangement, her marks improved immensely.
Simone Biles. How wonderful is she? The difficulty level of her routines is out of this world and she masters what she does. She might have had a slip on the balance beam (to me, the most amazing of her routines and, before her, I did not even like the beam), but her performance was superb nonetheless.
Oksana Chusovitina. She is 41 years old and she still made it to the vault’s final. That made me happy. I hope she does not get any injuries and continues challenging the ageing odds.
Mo Farah. I like him very much. Not only is he a magnificent athlete, he is, from what I hear, such a decent man. And his victory at the 10 000m, after the fall, has to bring a happy tear to one’s eyes.
Usain Bolt. He is probably the greatest sprinter of all times and it is a joy to watch him run.
I know there were other great achievements I am not mentioning. I am not minimising their worth, but I cannot keep on writing for days… and days and days…
 ...

And days...

Poemas 52

Hope?

I’ll be all shattered and bruised
Once you’re done with me.

But for now I seem to forget
All the pain you will cause me
Because I can create perfect
Images of us together in disguise.

Is it hope? Could it be?
Is it hope? Such strange feeling
Is it hope? Expectation of faith
Is it hope? Or deceit?

Now you are the addiction
That overwhelms the senses
Challenging the probabilities.
Rising above the horizon.

Is it hope? How to see?
Is it hope? Fallen dream
Is it hope? Truth concealed
Is it hope? Not for me.

I’ll be all shattered and bruised
Once you’re done with me.

[Maio de 2016]

Pensamentos líquidos 122

II. The Olympics: Rio 2016, the ugly side

We have all heard about the Olympics’ curse: countries invest millions in infrastructures that later down the years are rubbish in ghost areas. Despite the theories of creative destruction, my take is that this is not intertemporally beneficial for the countries that organise the Olympics. But I do think it could be different. I fear it may not be different in Brazil, though. But I hope I am wrong.
Nevertheless, I would like to focus this post on what I disliked about this Olympics and that goes beyond the tardiness in the preparations and the unfortunate Olympics curse. The two sides of ugly: some spectators and a few athletes.
First, I want to talk about the spectators. I loathed the behaviour of some spectators.
For those spectators that booed athletes, that were noisy when silence was paramount, that misbehaved when others were trying to perform at the highest level, after years and years of effort and sacrifice, let me tell you bluntly: it is NOT ok! And do not disguise that foul behaviour in cultural clothes. It is simply not ok!
Do you know how it is to get up at 5 in the morning to do your first workout in the early morning, to then attend classes, to be in pain for months in a row because your muscles are torn with stress injuries, to undergo surgeries because those stress injuries took the best out of you, and to come back, with a lot of pain and sacrifice, and to do gym work in the afternoon and to study when you get home because, after all, you’re also a student, or a working woman or man? Do you know? Do you even care? Do you have any idea of the pain these athletes go through? Do you have any idea of the effort they have to put in to be competitive? Yes, the most famous get quite some money out of it, but most of them are not famous, most of them need to work on alternative careers for when their sports career is over. Do you have any idea? No, you just seem to think it is ok to mock their effort. So, this means nothing to you, I’m sure, but I have no respect for you as spectators and that undignified behaviour is something people will remember Rio 2016 for. I hope you are happy about that.
Second, I want to talk about a few athletes. Unfortunately, some sportsmen behaved equally bad. I fully understand the need to unwind after so much pressure, but some things are just not ok. And violence is not ok. From vandalism to attempted rapes: you should be better than that. Of course, athletes can also be bad people, and some are. Again, it is NOT ok! And again, you deserve no respect for those actions.

Pensamentos líquidos 121

I. The Olympics and why I love them


I love the Olympics. I love the Olympics because of what they represent: the chance for individuals to surpass their human fragilities and limits. 
It is just sports, do not think I see it differently. But in each of those individuals - those athletes - you have on person, one human, who wants to do more than what should be physically feasible. And they manage, they surpass themselves in ways one can only conceive. And that is as good as it gets for us mortals out here. The sense of surpassing our awfully human limits.
There are other great things at the Olympics: the camaraderie, the breaking of social and cultural barriers, the acceptance of the link that unites us all: humanity, no matter skin colour, no matter religion, no matter other beliefs. But, for me, there is something too special in having individuals surpassing themselves, individuals surpassing the greatest of all times, carving their names on history books, setting themselves apart, being recognised after putting so much effort and perseverance into one thing.
Yes, this is why I love the Olympics: athletes there transcend their human characteristics to elevate themselves to immortal achievers.

Recomendações 86

The hope six demolition project, by PJ Harvey

A lovely album by PJ Harvey, one of the greatest.

He's saying dollar dollar
I can't look through or past
A face saying dollar dollar
A face pock-marked and hollow
Staring from the glass


Dollar, dollar, from “The hope six demolition project”, PJ Harvey, 2016

Arquitetura, artes plásticas e design 17

Fugit Amor, por Auguste Rodin

O eco que uma peça de arte reverbera em cada um de nós é variável e depende da relação genuína que se cria entre nós e a peça. Evidentemente, essa relação depende de um conjunto enorme de fatores, de entre os quais tem de se destacar as características intrínsecas da peça e nossas. Outro factor de destaque é a forma de arte em si, que pode, de algum modo, ser vista como uma das características da peça de arte. 
O impacto de uma peça de arte num indivíduo é uma temática que me interessa sobremaneira, mas hoje não é o dia para dissertar sobre ela. Hoje é dia de falar de um caso específico.
Há algumas semanas atrás, no Museu Rodin, em Paris, voltei a ser assaltada por uma sensação de compreensão tão avassaladora que me trouxe lágrimas às comportas dos olhos. Sou uma fã assumida de Rodin há muitos anos porque há uma intensidade nas suas obras que me comove, que me causa um estremecimento de verdade. Causa-me uma sentimento maior. Um tipo único de sentimento maior que só na arte consigo sentir sem receio de desilusão. 
No percurso da sua casa-museu, aparece cedo uma obra que há muito me cativa, me comove, me enternece e me faz exaltar. Chama-se “Fugit Amor” e, como muitas das suas obras, é parte das Portas do Inferno. Vi uma versão em mármore no Museu Legion of Honor em São Francisco há muitos anos atrás e teve também esse impacto magnífico. Várias outras obras na casa-museu em Paris causaram efeito semelhante, mas Fugit Amor é um bocadinho mais especial. 

Como vos dizia, o impacto de uma peça de arte num indivíduo depende de muitos fatores. Em Fugit Amor eu vejo perfeição técnica, mas vejo muito mais, vejo a qualidade efémera de um sentimento que nunca poderá ser permanente, a não ser que seja congelado na morte. Em Fugit Amor eu vejo a impossibilidade de um amor eterno e, no entanto, vejo a intensidade e a dor da sua ausência. Sim, sei que não é essa a história por detrás da sua criação para as Portas do Inferno. Mas é assim que a sinto. E isso é tudo porque em Fugit Amor vejo-me a mim.