Pensamentos líquidos 13

Bent

Passei parte da tarde aqui

Trafalgar Studios

a assistir a esta peça de teatro. Sim, gostei. Bastante. Mas mais do que escrever sobre o valor estritamente artístico queria, com ela, marcar uma posição, quase à Sartre, (quando defendia a arte com um objectivo social). Mais um grito, se quiserem. Vendo bem as coisas, deveria criar uma rubrica nova - «O grito». Voltando.


Aborrece-me muito a ideia de contar “a história” das coisas, mas para marcar o ponto, vejo-me obrigada a. Resumidamente, na Alemanha dos anos 30, pré-Hitler, o movimento queer não era perseguido. Com a torrente nazi, as perseguições, para além dos judeus, atingiram todos aqueles que julgavam queer, chegando a dizer-se, na peça, que as únicas pessoas que estavam mais abaixo dos judeus nos campos de concentração eram os queer. Como em todo o lado há pessoas que se apaixonam. Ali, num campo de concentração, dois homens apaixonam-se; chegam a criar um mundo quase extra-sensorial para poderem estar juntos, visto não o poderem fazer num sentido mais físico e, inevitavelmente um deles é chacinado. [Reduzir a peça a isto é quase cruel porque, de facto, só atentando aos detalhes, às subtilezas de uma sensibilidade notável, ao texto em si, é que tudo isto ganha a densidade artística, mas… para isso recomendo que vejam ;-)]

Acho que não é preciso mais que replicar a punchline do texto.

«I just love you. What is wrong with that?»

E, depois disto, pensar como ainda não se evoluiu nada e se continua nessa ignorância tacanha, anacrónica e desumana de tratar pessoas. Que gostam e/ou querem gostar de outras. É tão simples quanto isto. Ah, e estou obviamente a referir-me muito especificamente a Portugal. Porque, apesar de eu saber que isto acontece mundialmente, também sei que em Portugal ainda nem sequer é legalmente permitido que duas pessoas do mesmo sexo se casem. Ou adoptem. E convenhamos, socialmente é muito, muito mal recebido quando não sujeito a violência física ou outra.

Quando estava a passear, depois de ter visto a peça, e comecei a pensar como escrever sobre ela, achei que devia começar desde logo a advogar que todas as pessoas devem ter direito a decidir o que fazer à sua vida – analogia muito directa ao direito que acho que todas as mulheres têm em relação à IVG –, mas em ambos os casos é mais do que isso; é a obrigação de todas as outras pessoas respeitarem. E entretanto decidi utilizar a punchline que não deixa de ser um bocadinho manipuladora por tentar tocar ao sentimento, mas talvez seja mais eficaz do que os mil e um argumentos racionais e lógicos que eu poderia enunciar…

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