Poemas 10

Metamorfoses

Sufoco num cansaço angustiante
de palavras perdidas ou memórias esquecidas,
na busca contida por objectivos estagnados
dum percurso obtuso de muros cerrados.
Sou já uma história, escrita por mim
quando a obstinação era maior que eu própria;
sou já uma vítima da minha vitória,
um fantasma que sobrevive à memória
mas que não tem força para se materializar.
Sou uma fraude composta de pó estelar
sem brilho nem pujança de nébulas ou cometas.
Sou uma música composta em surdina envergonhada
a que falta o orgulho ou vontade de ser tocada.
Sou uma pintura estragada por um dia de sol.
Sou um mamífero perdido num mar de anzol.
Sou um poema riscado sem verdade ou mentira.
Sou uma escultura de pedra há muito partida;
Sou uma fotografia rasgada à qual falta um pedaço;
Sou um rio onde a água é vidro e estilhaço;
Sou um filme de herói sem amor nem espada,
eu sou tudo... e não sou nada!

[Dezembro de 2002]

2 comentários:

Anónimo disse...

Extraordinário!

F disse...

Muito obrigada, caro...anonymous.