Apontamentos fugazes 69

Sobre a idade adulta

Deito-me de bruços, para escrever. Tenho os cotovelos encostados à cama e um copo de vinho tinto na mão direita. Uma posição à Carrie, no Sexo e a Cidade. Conseguem visualizar? E percebo que cheguei à idade adulta. Só um adulto escreve com um copo de vinho tinto na mão.

Nunca mais posso ficar aborrecida quando me chamarem Sra. Mateus no aeroporto…

Micro-teorias e falácias 5

Sobre a sorte

Dizem que a sorte se procura. Mas podem parar de o fazer. O Scolari já a encontrou.

Momentos de poesia 7

Qu’est-ce pour nous, mon coeur…

Qu'est-ce pour nous, mon coeur, que les nappes de sang
Et de braise, et mille meurtres, et les longs cris
De rage, sanglots de tout enfer renversant
Tout ordre ; et L'Aquilon encor sur les débris ;

Et toute vengeance ? Rien !... - Mais si, toute encor,
Nous la voulons ! Industriels, princes, sénats,
Périssez ! puissance, justice, histoire, à bas !
Ça nous est dû. Le sang ! le sang ! la flamme d'or !

Tout à la guerre, à la vengeance, à la terreur,
Mon Esprit ! Tournons dans la morsure : Ah ! passez,
Républiques de ce monde ! Des empereurs,
Des régiments, des colons, des peuples, assez !

Qui remuerait les tourbillons de feu furieux,
Que nous et ceux que nous nous imaginons frères ?
À nous ! Romanesques amis : ça va nous plaire.
Jamais nous ne travaillerons, ô flots de feux !

Europe, Asie, Amérique, disparaissez.
Notre marche vengeresse a tout occupé,
Cités et campagnes ! - Nous serons écrasés !
Les volcans sauteront ! et l'Océan frappé...

Oh ! mes amis ! - Mon coeur, c'est sûr, ils sont des frères :
Noirs inconnus, si nous allions ! allons ! allons !
O malheur ! je me sens frémir, la vieille terre,
Sur moi de plus en plus à vous ! la terre fond,

Ce n'est rien ! j'y suis ! j'y suis toujours.

[Arthur Rimbaud, 1886]

Pensamentos líquidos 66

Porque é importante não esquecer o Tibete
a

Trivialidades 99

I've been thinking about you

so how can you sleep?



[Thinking about you, Radiohead]

Pensamentos líquidos 65

Cada existência é um evento de probabilidade nula

As pessoas constroem-se a cada instante. Cada um é um somatório maior do que a soma de todas as partes, porque o conjunto é uno. Há as razões antropológicas e há a genética e há a Terra e os astros e tudo, tudo o que nos rodeia. Há as pessoas que vimos, há aquelas com quem falámos, há aquelas que sabemos como nos marcaram e há aquelas que não sabemos porque nem sequer nos lembramos delas. Por isso cada um de nós é composto por um número incontável de acontecimentos de probabilidade quase nula. Porque escolhemos aquele café naquele dia do qual nos não lembramos e acabámos por perder todas as outras possibilidades infinitas para aquele dia. Porque lemos aquele livro naquela altura triste e tudo voltou a fazer sentido. Porque agora escrevo numa calma tranquila e estou só. Porque o agora é o resultado de um número de acontecimentos demasiado grande para poder ser possível, nós não somos possíveis para além da possibilidade de existirmos. E a magia dessa possibilidade é infindavelmente admirável.

[repescado de pensamentos de 2004]

Apontamentos fugazes 67

Just tell me a truth that I can’t deny
a

Poemas 21

Violino

Este violino que ouço
não me traz sons de verdade,
é mais uma ilusão real
para acalmar a ansiedade,
num labirinto sem saída,
numa vã busca de liberdade,
onde nada existe,
onde nada é verdade.

[Dezembro de 2001]

Trivialidades 98

Ronaldo

Deixa-me muito desconfortável ver o Cristiano Ronaldo deitado num colchão, com os braços atrás da cabeça. Assim, espalhado pela cidade, numa posição tão…íntima.
a

Trivialidades 97

Sou uma quiz freak

Uma surpresa




You Belong in Amsterdam



A little old fashioned, a little modern - you're the best of both worlds. And so is Amsterdam.

Whether you want to be a squatter graffiti artist or a great novelist, Amsterdam has all that you want in Europe (in one small city).



Uma brincadeira




You Are Lemon Meringue Pie



You're the perfect combo of sassy and sweet

Those who like you have well refined tastes



E aquilo que eu sempre soube…




You Communicate Like a Man



When you communicate, you like to get to the point.

You're not afraid to say what's on your mind - and leave it at that.

Talking about your emotions drains you. You rather keep them to yourself.

You prefer solving problems to wallowing in your sorrows.

Pensamentos líquidos 63

Ironia

No fundo, no fundo, Milan Kundera foi “auto-expulso” da Checoslováquia quando achou ser insuportável continuar a viver num país que o desiludiu, o renegou. Na década de 70, os seus livros foram banidos da Checoslováquia, perdeu o emprego e mais tarde a nacionalidade checoslovaca pelo envolvimento na Primavera de Praga e pelo conteúdo dos seus livros. Passou a residir numa França que o acolheu. Passou a escrever em francês.

É-lhe agora atribuído o Prémio Checo da Literatura. E pelos vistos «(…) o escritor suscita alguma reserva no seu país, devido a ter decidido abandonar a sua língua para passar a escrever em francês e a nunca ter dado prioridade à edição em checo»

Poupem-me. Se fosse eu, faria muito pior.

Trivialidades 96

Ciclo tipos de pessoas

As sonsas e as outras.

Apontamentos fugazes 66

All it takes is one opportunity…

… to give up



[from Grey’s Anatomy]

Trivialidades 95

Ciclo hunks – James Franco

Um hunk que não é hunk… mas as semelhanças físicas com o Jeff Buckley e o olhar à James Dean tornam-no muito “apetecível”.



[James Franco]

Apontamentos fugazes 65

Sobre a importância da antropologia e da filosofia

«(…) Cada um de nós e metade o que ele é e o que é o ambiente em que vive. Quando este coincide com a nossa peculiaridade e a favorece, a nossa pessoa realiza-se por completo, sente-se fortalecida pelo que a rodeia e incitada para expandir a sua mola íntima. Quando o ambiente nos é hostil, como está também dentro de nós, obriga-nos a uma perpétua dissociação e resistência, deprime-nos e dificulta o desenvolvimento da nossa personalidade e que esta frutifique plenamente. (…)»

«(…)Já veremos, em concreto, como depois de os filósofos terem suportado ruborizados que os homens de ciência os desdenhassem atirando-lhes à cara que a filosofia não é uma ciência, hoje apraz-nos, pelo menos a mim, esse insulto, e, recolhendo-o no ar, devolvemo-lo dizendo: a filosofia não é uma ciência porque é muito mais.»


Ortega y Gasset, «O que é a filosofia», Biblioteca Editores Independentes, pp. 37 e 38.


Sobre a filosofia. Não, não é só ao Ortega y Gasset. Regozijo-me com ele.

Contos 18

Ciclo S - Mãos

Há qualquer coisa de errado com aquelas mãos. Talvez as unhas. Talvez só uma ligeira falta de elegância. E, no entanto. Aquelas mãos, na minha mente, tocam-me com luxúria. E eu gosto da sensação. As minhas terminações nervosas sentem com intensidade, a minha pele contrai-se e o meu corpo finge uma calma que já não tem. Mas que eu quero ter.
Mas, as mãos. Eu falava das mãos. Estão longe de serem perfeitas. Aquelas mãos, e, todavia, esqueço-me, às vezes, que trazem uma cara, um corpo, uma pessoa agarrada. Por momentos, só as mãos existem. Momentos que se prolongam mais do que se possa imaginar. É que os dedos passam a linha do meu nariz, tocam levemente a pele, descem, puxam o meu lábio inferior e deixam a minha boca exposta, os meus dentes visíveis. E é difícil fingir aquela indiferença quando os dentes estão expostos.
Mas, as mãos. Era (só) das mãos que eu falava. E dizia que a distância que as separa do arquétipo das mãos ideais é muita. Serão as nozes dos dedos que as estragam? Fecho os olhos enquanto uma das mãos me agarra o pescoço. Só uma das mãos, mas envolve todo o meu pescoço. Os meus olhos estão fechados porque mesmo que vissem, não conseguiriam ver as mãos. Que me percorrem, cada vez mais rápido, o peito, os abdominais. São essas mãos que me levantam as costas do chão e calcorreiam todos os espaços de pele disponíveis.
Mas, as mãos. As mãos de que eu queria falar. Aquelas que não são as mais bonitas. Aquelas que me tocam a pele, aquelas que me agarram o corpo. É dessas mãos que eu falo. As que sobem as minhas pernas sem indecisão, as que me pressionam a carne, os ossos. As que me excitam, agora.
Não sei com quem estou na cama. No chão. Mas tenho a certeza das mãos que me tocam.

[Outubro de 2007]

Apontamentos fugazes 64

O bom que é mau e o mau que é bom

Não tenho as melhores recordações de Heathrow. Mas há uma coisa que me agrada muito no aeroporto. Não mesmo dentro do aeroporto, mas ainda assim. Os corredores que ligam os terminais ao metro, ao Heathrow Express, aos parques de estacionamento. São coloridos por cartazes publicitários do HSBC. Sem querer fazer qualquer tipo de publicidade ao banco (antes a quem trata do marketing), quero dizer que os considero brilhantes. São sobre as diferentes maneiras de ver as coisas; sobre o preto e o branco que fazem o cinzento não existir.

Brócolos e um bolo de chocolate. Sobre os brócolos diz “good”, sobre o bolo “bad” e depois as palavras invertem, "bad" sobre os brócolos e "good" sobre o bolo de chocolate. Ao longo do tempo, os cartazes vão alterando. Agora, dedicaram-me um. Uma malagueta e um sapato de salto muito alto. Sobre a malagueta lê-se “pleausure”, sobre o sapato “pain”. De seguida, sobre a malagueta “pain” e sobre o sapato “pleasure”.

Sim, foi pensado em minha homenagem. E ao meu masoquismo mal disfarçado.
a

Pensamentos líquidos 63

Radiohead vistos à luz do novo álbum

Muitas coisas merecem ser escritas após reflexão. Mas se se pensar muito, perde-se a oportunidade. E eu já estou atrasada. E logo depois da minha última homenagem.

Há algum tempo atrás ouvi que os Radiohead não tinham editora para o novo álbum. Puzzlement. Rumores. Nos meus dias em Londres descobri finalmente. Atrasada. Mas finalmente.

Há uma semana atrás, os Radiohead anunciaram que o seu novo álbum «In rainbows» estaria disponível no seu website a partir de 10 de Outubro (amanhã). Sem editora pelo meio. Sem nada, para além dos cinco magníficos, e uns advogados, creio. Qualquer pessoa pode abrir o site e comprar o álbum (download ou discbox). Isto já é curioso. Mas é só a ponta do iceberg. É que os 70 % abaixo da água dizem que o preço (no caso de download) é decidido exclusivamente pelo comprador. E pode ser exactamente igual a 0£. Sim, é verdade.

É por isto que este deveria ser um post com mais reflexão porque não sei muito bem o que acho disto. Foi uma decisão dos Radiohead, consciente, decerto, logo não posso achar mal. Mas o modelo de distribuição? Bem, aqui ainda é fácil, porque detesto, visceralmente, pensar que quem tem a parte artística, criativa, de algo pode ganhar menos (ou o mesmo ou até pouco mais) do que quem distribui ou promove. Portanto, se não querem ter editora, apoio. Não funciona para todos, é certo. Mas, claro, funciona para bandas como os Radiohead. E, a parte mais curiosa, o preço? Sobre o preço não sei. É que é demasiado tentador pagar… nada. Mas um preço livre também permite pagar o preço justo. Mas determinado só pelo comprador.

E agora todos…

- “Cara F., quanto é que vais pagar pelo álbum?”

Provavelmente nada pelos downloads. É que eu sou uma rapariga que gosta de coisas físicas. E quero mesmo a discbox. Ah… E também sei que vou pagar o preço que me pedirem por um bilhete para um concerto deles. Porque ouvi dizer que se aproxima uma tournée fantástica em 2008.

Apontamentos fugazes 63

Shoe wear

Qualquer coisa está muito mal, quando o único ponto positivo de um fim-de-semana longo é comprar um par de sapatos. Mas, asseguro-vos; são lindíssimos.

Não sei como há quem diga que comprar calçado é uma futilidade.

Homenagens 18

Radiohead - I

Escrevi vários posts, que nunca publiquei, sobre os Radiohead. Porque o post sobre os Radiohead teria que ser “O post”. Teria que ser perfeito. E achei que, de alguma maneira, tinha só uma oportunidade para o conseguir. Mas esta tarde reconsiderei. Posso começar por vos dizer coisas, sem escrever “O post”. Porque esse vai ter que ser perfeito. Vou ter que o afinar, aperfeiçoar e, eventualmente, nunca o postar.

Ainda assim, aquilo que tenho para vos dizer hoje é suficiente para perceberem o que os Radiohead são para mim. E só preciso escrever duas coisas.

1. Se me exigissem que mantivesse, no mundo, só uma banda / um músico / um compositor, sem que mais ninguém pudesse “musicar”, eu deixaria os Radiohead.

2. Tenho, semanalmente, que entregar a resolução de um problem set de matemática. Detesto ter que os fazer porque não os percebo (nem os exercícios resolvidos sei, paradoxalmente, resolver). Quando me sentei, hoje ao início da tarde, para essa tarefa ingrata, depois de ter escolhido o CD que me acompanharia, disse «Não pode ser menos que Radiohead, só eles tornam este martírio suportável».

E ouvi o Ok Computer três vezes seguidas.



[Radiohead – Let Down]

Recomendações 20

Festa do Cinema Francês

Apesar do site do evento ser deplorável, continuo a achar que é uma recomendação válida. Apesar de me dizerem que devo ser a única pessoa a suportar o festival, acho que deve continuar. E, apesar de, possivelmente, eu não poder ver nenhum dos filmes, recomendo à mesma.

É que o cinema francês tem uma elegância inatingível.

Homenagens 17

À senhora que, nos últimos dias, me tem acalmado



[Billie Holiday]