Glimpse 26


Hamburg

Hamburgo é uma cidade muito bonita. Hamburgo parece, quando silenciosa, uma cidade belga ou, provavelmente, francesa. Hamburgo tem ares de Paris. Hamburgo tem tudo para ser fantástica. É, esteticamente, provavelmente a cidade alemã mais bonita que conheço.
Hamburgo tem, na HafenCity, a maior reconstrução urbana em desenvolvimento na Europa. E é verdadeiramente admirável.

A Speicherstadt, a área destinada ao armazenamento de bens para comercialização pelo porto, é realmente interessante e, surpreendentemente, relativamente limpa.

A parte antiga de Hamburgo é uma delícia. Entre os canais e os lagos artificiais do Alster, a cidade é energética, mas sempre esteticamente agradável.


Para aproveitar todas estas imagens, fiz as tradicionais visitas guiadas. Porém, parece que a maior parte dos turistas em Hamburgo são alemães. Pelo que eu fiz estas visitas com uns auscultadores duvidosos (quando havia auscultadores) que me permitiam obter alguma informação em inglês enquanto o guia falava muito mais alto em alemão. Pois, Hamburgo é uma cidade lindíssima. Mas é melhor se se falar alemão…
Hamburgo tem uma cena artística interessante. Tem museus que vale a pena visitar. Tem musicais que vale a pena ver. Mas é novamente aqui que Hamburgo desilude. Porque eu podia desculpar aqueles que organizam visitas guiadas pré-fabricadas por terem falta de visão para o turismo. Mas não posso desculpar quem esconde arte por detrás de uma língua.
O Hamburger Kunsthalle tem uma colecção muito respeitável e tem, de momento, uma exposição notável de Giacometti. Mas na maior parte das salas só exibe informação em alemão! Apenas as salas de arte moderna têm simultaneamente informação em alemão e inglês. A exposição de Giacometti tem uns folhetos que reproduziam em inglês o que estava escrito nas paredes em alemão. Os musicais são… go figure… em alemão! A senhora da informação turística tentou convencer-me a ver um musical, de língua original inglesa, em alemão, utilizando o argumento que a ópera é em italiano. Pois. Mas a ópera é em italiano porque foi escrita nessa língua!

Pois. Hamburgo é uma cidade lindíssima. Mas se não fosse alemã, seria fantástica.

Homenagens 63

Objector de consciência

Jovem, que se recusa participar na exército israelita devido aos seus actos violentos contra o povo palestiniano, é sistematicamente preso pelas autoridades israelitas. São pessoas assim que me lembram por que é que é preciso lutar.

Conscript facing jail again for refusing to go against his conscience | Amnesty International

Recomendações 66


Os álbuns dos Noah and the Whale

A propósito de Last Night on Earth (2011), partilho The Line

A propósito de The first days of Spring (2009), partilho Blue Skies

A propósito de Peaceful, The World lays me down (2009), partilho Give a Little Love

Apontamentos fugazes 213


Mito de Sísifo

«Os deuses tinham condenado a Sísifo a empurrar sem descanso um rochedo até ao cume de uma montanha, de onde a pedra caía de novo, em consequência do seu peso. Tinham pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.
(…)
Já todos compreenderam que Sísifo é o herói absurdo. (…) O seu desprezo pelos deuses, o seu ódio à morte e a sua paixão pela vida valeram-lhe esse suplício indizível, em que o seu ser se emprega em nada terminar.
(…)
Se este mito é trágico, é porque o seu herói é consciente (…) O operário de hoje trabalha todos os dias da sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo. Mas só é trágico nos raros momentos em que ele se torna consciente. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão da sua miserável condição: é nela que ele pensa durante a sua descida. A clarividência que devia fazer o seu tormento consome ao mesmo tempo a sua vitória. Não há destino que não se transcenda pelo desprezo.»

Albert Camus, Capítulo ‘O Mito de Sísifo’, O mito de Sísifo, trad. de Urbano Tavares Rodrigues, Editora Livros do Brasil, pp. 125, 126, 127

Covers melhores do que o original 6


Helplessly hoping

Original de Crosby, Stills & Nash

Versão de Noah Gundersen

Trivialidades 242

- Tem líquidos na bagagem de mão?
- Sim, mas são documentos pequeninos.

Momentos de poesia 18


Soneto de amor

Não me peças palavras, nem baladas,
nem expressões, nem alma… Abre-me o seio,
deixa cair as pálpebras pesadas,
e entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
nossas línguas se busquem, desvairadas…
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua… - unidos,
nós trocamos beijos e gemidos,
sentindo o nosso sangue misturar-se…

Depois…  - Abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada…
Deixa a vida exprimir-se sem disfarce!

«Soneto de amor», Biografia, José Régio, em Antologia de poesia portuguesa erótica e satírica, selecção por Natália Correia, Antígona e Frenesi, 2008